O traje acadêmico na UFRJ
Maria Cristina Volpi

O uso solene de um vestuário apropriado é uma forma de ritualização. Ao observar que bacharéis e licenciados da Universidade Federal do Rio de Janeiro escolhem becas, peitilhos e faixas coloridas, insígnias de suas Faculdades e Escolas, ao comemorar a colação de grau, nasceu o pretexto para refletir sobre as formas de representação, cujos significados ainda encontram eco na comemoração dos formandos. Neste trabalho, o traje dos estudantes e professores da UFRJ, as insígnias distintivas dos graus e o símbolo da universidade, são encarados como objeto de estudo em sua relação com a memória institucional, a indumentaria secular e os valores simbólicos atribuídos ao saber, problematizando-se as origens, formas de apropriação, persistência e rupturas desses símbolos.

A despeito de sua criação em 1920, o traje acadêmico da UFRJ tem suas raízes nas faculdades e escolas do Brasil imperial, cujos elementos e cores vinculam-se ao paradigma da Universidade de Coimbra, acrescentam-se alguns elementos da Universidade de Salamanca e outros, das universidades francesas napoleônicas. Tais matrizes emergem das tradições que estabeleceram o uso de trajes específicos para os professores universitários da universidade medieval: a veste talar cotidianamente, nas cerimonias, a túnica ou beca, a murça ou capelo e o barrete como insígnia. Suas formas e elementos constituintes variaram durante os séculos, permanecendo em uso até nossos dias, representando uma continuidade de formas vestimentares arcaicas.

Na resolução do Conselho Universitário de 13 de outubro de 1949, foram estabelecidos os símbolos e trajes da então Universidade do Brasil. Desse modo, a bandeira, as flâmulas, as insígnias e os distintivos foram regulamentados. No documento, a cor da Universidade é o branco e o símbolo, dourado, foi, mais adiante, elaborado por professores da Escola de Belas Artes, com a introdução da Minerva, a deusa romana da sabedoria. Estas escolhas não são aleatórias e inserem-se no contexto ideológico do período.

O traje acadêmico da UFRJ para todas as cerimonias solenes é a beca negra; aos graduandos, era conferido o uso de um botão com o símbolo da Faculdade ou Escola, o qual era bordado na manga esquerda de bacharéis, licenciados e professores. As cores dos capelos correspondiam às escolas – Arquitetura, azul escuro; Ciências Econômicas, azul claro; Direito, rubi; Farmácia, topázio; Filosofia, ametista; Medicina, esmeralda; Odontologia, granada; Belas Artes, rosa ciclâmen; Educação Física, ouro-velho; Engenharia, safira; musica, azul rei, Química, azul-royal; estas cores ainda persistem nas faixas dos formandos atuais. Depois de 1967, foram atribuídos aos capelos, apenas as cores dos centros. Os doutores, além da beca deveriam usar a borla ou barrete. Desse modo, as posições – reitor, decano, professor catedrático, bacharel/licenciado – são dignidades, as quais ficam explicitas pela vestimenta. Do mesmo modo, ao envergar os símbolos vestimentares, o formando é investido de sua nova competência.

Mantendo uma posição conservadora face à evolução vestimentar, a veste talar exemplifica a função distintiva do vestuário acadêmico, conferindo um valor numinoso ao sentido a este atribuído.

 

Palavras-chave: traje acadêmico no Brasil; memórias da veste talar da UFRJ; história da indumentária e da moda no Brasil.

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